O mês de maio de 2024 marcou-se pela quantidade expressiva de chuvas no Rio Grande do Sul. Índices pluviométricos, conforme dados dos institutos de meteorologia e da Defesa Civil, apontaram para cerca de mil milímetros em diversos municípios gaúchos, especialmente os localizados nas regiões da Serra, Vale do Taquari, Central, Metropolitana de Porto Alegre e Sul. A tragédia climática deixou um rastro de destruição com imóveis danificados, milhares de pessoas desabrigadas/desalojadas, bem como, mortes. Muitas causadas pelas cheias dos rios e dezenas por deslizamentos de terra.
Nos “movimentos de massa”, a engenheira civil especialista em Geotecnia, Catiucha L.S. Rehbein, mapeou 3.934 pontos em 99 cidades gaúchas. A contabilização parte dos números apresentados pela NASA Disasetr. Veranópolis apresentou 270 deslizamentos, enquanto Bento Gonçalves 229. Foram os dois municípios com maiores registros. Anta Gorda (219), Cotiporã (162) e Dois Lajeados (145) vêm na sequência. Guaporé contabilizou 72, enquanto São Valentim do Sul 76.
“Em um primeiro momento, ao analisar o gráfico, levei um susto. Tinha uma ideia de que a quantidade de deslizamentos seria significativa, mas não que fosse tanto e que muitas regiões tivessem sido afetadas. Importante frisar, que os números sempre auxiliam no dimensionamento do desastre. O objetivo, quando me detive aos dados da ‘Nasa Disasters’, foi quantificar e dar esse aporte à sociedade”, disse Catiucha.
A Serra Gaúcha, em especial, é um “prato cheio” para o registro dos deslizamentos de terra que, segundo Catiucha, acontecem com frequência. Porém, não na forma e dimensão em tamanho como os que provocaram destruição de estradas, residências, pontes e, infelizmente, ceifaram vidas. As encostas são íngremes, o solo é raso sobre uma rocha lisa e a altitude é grande.
“Soma-se a quantidade expressiva de chuva e registramos esse grande movimento de massa. Muitos são naturais, mas há possibilidade de evitarmos novas tragédias”, salientou a engenheira Catiucha, apresentando alguns pontos importantes:
“Precisamos de um mapeamento das áreas de risco e um monitoramento que não seja de temporada, mas de um ano todo e que haja o comprometimento dos Municípios. Há pessoas que residem nas encostas, a infraestrutura logística (estradas) está na base”, destacou.
Não descarta-se que novas movimentos de massa ocorram, mesmo que não haja chuvas. O solo, destacou Catiucha, está encharcado.
“Continuamos com regiões em perigo, independente de ter chuva ou não. No temporal, o solo estava saturado. A água continua entrando no solo e indo até a raiz, a parte mais profunda. Leva muito tempo para secar e, por vezes, ocorrem deslizamentos com o tempo bom, com sol. É normal. Há muita instabilidade e a região está ‘quente’, como chamamos”, concluiu.
Os dados, conforme Catiucha Rehbein, foram compilados da NASA Disasters e correspondem a contabilização dos “movimentos de massa” registrados até o dia 9 de maio. Em muitos municípios, após a data, houve deslizamentos de terra que não fazem parte do estudo, além de pequenos “movimentos” não terem sido captados pelos satélites.