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Movimentos de massa - "Na Serra e Vales, as encostas são muito íngremes e estão saturadas de água. Há possibilidade de registrarmos novos deslizamentos de terras", afirma Catiucha Rehbein, engenheira civil

Em Guaporé, conforme dados da NASA Disaster, foram 72 movimentos de massa contabilizados. Anta Gorda (219), Cotiporã (162) e Dois Lajeados (145) também registraram deslizamentos


O mês de maio de 2024 marcou-se pela quantidade expressiva de chuvas no Rio Grande do Sul. Índices pluviométricos, conforme dados dos institutos de meteorologia e da Defesa Civil, apontaram para cerca de mil milímetros em diversos municípios gaúchos, especialmente os localizados nas regiões da Serra, Vale do Taquari, Central, Metropolitana de Porto Alegre e Sul. A tragédia climática deixou um rastro de destruição com imóveis danificados, milhares de pessoas desabrigadas/desalojadas, bem como, mortes. Muitas causadas pelas cheias dos rios e dezenas por deslizamentos de terra.

Nos “movimentos de massa”, a engenheira civil especialista em Geotecnia, Catiucha L.S. Rehbein, mapeou 3.934 pontos em 99 cidades gaúchas. A contabilização parte dos números apresentados pela NASA Disasetr. Veranópolis apresentou 270 deslizamentos, enquanto Bento Gonçalves 229. Foram os dois municípios com maiores registros. Anta Gorda (219), Cotiporã (162) e Dois Lajeados (145) vêm na sequência. Guaporé contabilizou 72, enquanto São Valentim do Sul 76.

“Em um primeiro momento, ao analisar o gráfico, levei um susto. Tinha uma ideia de que a quantidade de deslizamentos seria significativa, mas não que fosse tanto e que muitas regiões tivessem sido afetadas. Importante frisar, que os números sempre auxiliam no dimensionamento do desastre. O objetivo, quando me detive aos dados da ‘Nasa Disasters’, foi quantificar e dar esse aporte à sociedade”, disse Catiucha.

A Serra Gaúcha, em especial, é um “prato cheio” para o registro dos deslizamentos de terra que, segundo Catiucha, acontecem com frequência. Porém, não na forma e dimensão em tamanho como os que provocaram destruição de estradas, residências, pontes e, infelizmente, ceifaram vidas. As encostas são íngremes, o solo é raso sobre uma rocha lisa e a altitude é grande.

“Soma-se a quantidade expressiva de chuva e registramos esse grande movimento de massa. Muitos são naturais, mas há possibilidade de evitarmos novas tragédias”, salientou a engenheira Catiucha, apresentando alguns pontos importantes:

“Precisamos de um mapeamento das áreas de risco e um monitoramento que não seja de temporada, mas de um ano todo e que haja o comprometimento dos Municípios. Há pessoas que residem nas encostas, a infraestrutura logística (estradas) está na base”, destacou.

Não descarta-se que novas movimentos de massa ocorram, mesmo que não haja chuvas. O solo, destacou Catiucha, está encharcado.

“Continuamos com regiões em perigo, independente de ter chuva ou não. No temporal, o solo estava saturado. A água continua entrando no solo e indo até a raiz, a parte mais profunda. Leva muito tempo para secar e, por vezes, ocorrem deslizamentos com o tempo bom, com sol. É normal. Há muita instabilidade e a região está ‘quente’, como chamamos”, concluiu.

Os dados, conforme Catiucha Rehbein, foram compilados da NASA Disasters e correspondem a contabilização dos “movimentos de massa” registrados até o dia 9 de maio. Em muitos municípios, após a data, houve deslizamentos de terra que não fazem parte do estudo, além de pequenos “movimentos” não terem sido captados pelos satélites.


Data: 17/06/2024 18:36:05
Autor: Eduardo Cover Godinho