Com o título de “Capital Nacional da Fé Católica”, uma vez que 99,4% da população declara-se pertencente a esta religião, o município de União da Serra viu um dos seus maiores símbolos ir por água abaixo, literalmente. A Capela São Luiz, localizada na antiga sede administrativa do Município, foi completamente destruída na quarta-feira, dia 1º de maio, pela força do Arroio Lajeado. O flúmen passa a menos de 100 metros do templo religioso e, com as fortes chuvas, a vazão extrapolou o curso normal, registrando o transbordamento.
Construída em 1905 por moradores da comunidade, a centenária Capela mantinha as janelas em estilo original e o sino no alto da torre, além da imagem de Nossa Senhora dos Navegantes em seu interior.
“A Igreja tem um valor histórico incalculável. Estava muito bem preservada pela comunidade. O sino, que encontrava-se no campanário, era proveniente de uma fundição da família Cobalcchini, do padre scalabriniano Pietro Antonio Colbacchini (Fundador de Nova Bassano/RS), de Bassano Del Grappa (Região Vêneto/Itália). Existe uma ligação muito forte da comunidade de União da Serra pela história que ali estava armazenada e que foi levada totalmente. Infelizmente é uma situação difícil, mas acreditamos que logo estará reerguida”, destacou o pós doutor, Leo Peruzzo.
A importância da Capela São Luiz é tamanha que, sua imagem, está estampada na bandeira oficial de União da Serra. A localidade, conforme o prefeito Cezer Gastaldo, foi uma das mais atingidas.
“A centenária Igreja foi levada. Ela faz parte da história de União da Serra. É um dos marcos do desenvolvimento da comunidade, visto que muitas famílias residiam na localidade e, com muito empreendedorismo, fizeram o município acontecer. Nos sentimos impotentes por não conseguir colaborar com os moradores da antiga sede quando o rio começou a subir. O momento, agora, é de erguer a cabeça e recomeçar. Com a força da comunidade, vamos reconstruir a Capela”, disse o prefeito Cezer Gastaldo que, juntamente com o padre Osmar Burille e outros moradores, esteve no Distrito de Colombo, em Guaporé, onde uma das imagens que fazia parte da Igreja, a de Nossa Senhora dos Navegantes, foi localizada às margens do Rio Guaporé.
Descrita como um milagre, a imagem, com alguns danos em sua estrutura, foi encontrada no sábado, dia 11 de maio – véspera do Dia das Mães, por Ailton Pin, na propriedade de Aquelino Frare. Estava entre galhos e percorreu, em meio à forte correnteza, cerca de 30 quilômetros. O ponto onde estava era de difícil acesso.
“Desci à encosta do Rio para acompanhar o meu cunhado e a minha cachorra, que sempre está junto, começou a latir e ela não é acostumada. Cheguei perto de onde ela estava e vi a Santa. Estava de cabeça para baixo, deitada. Levantei a imagem e coloquei em um lugar seguro. Vim para casa e falei para a mulher que tinha achado. Ela disse: o padre Burille está dando no Facebook que se foi a igreja de União da Serra. Falei com o meu filho, Vagner Pin (Sapateiro), que passou o contato do padre. Conversei com ele e me disse que viriam resgatar a imagem”, disse Ailton.
E a comitiva uniserrana apareceu. Caminhou por longos quilômetros, em meio a deslizamentos de terra e trilhas, até encontrá-la. A emoção, conforme Ailton, tomou conta de todos.
“Foi uma bênção ter encontrado naquele ponto. Um pouco mais para frente, dificilmente a imagem estaria inteira. Quando o padre visualizou, ele não conteve a emoção. Só faltou chorar”, disse.
Entusiasmado com a localização da imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, o Pe. Osmar Burille afirmou que aos poucos tudo voltará a ser como antes, inclusive com a união da comunidade para a reconstrução de um novo templo religioso.
“A Capela São Luiz foi totalmente destruída. Incrível o que aconteceu. A ideia é reconstruir. Vamos esperar um tempo para tentarmos recuperar alguns pertences dela e depois vamos mobilizar a comunidade para colocar uma nova estrutura, idêntica a que foi levada pelas águas, de pé”, destacou o sacerdote que, informou, a localização de objetos como toalhas, porta galho e sacrário.
Na comunidade São Luiz, além da Capela, parte do salão comunitário e o cemitério, que era cercado por largos muros de pedras, ficaram comprometidos. Residências, estabelecimentos comerciais e propriedade rurais, assim como vias urbanas, também ficam danificados com a força das águas.